Idade de Cristo

Pedro de Carvalho Soares - "Drope"


A vida é sempre tão generosa comigo. Nascer filho único e ainda de um laço entre as famílias Pires e Muniz, mesmo sem ter nenhum dos dois sobrenomes, já me fez completo. Uma infância perfeita. Nunca senti falta se quer de um irmão, porém primos eu tenho de monte, e, pra ser sincero, daria a minha vida para salvar a de qualquer um deles. Carrego uma raiz de músicos, poetas, desenhistas, escultores, cantores, artesãos e tudo que tenha arte no inicio ou no final. Foi uma Infância de verdade, jogando bola em ruas de terra, rodando pião, brincando com bola de gude, soltando pipa, tomando banho de rio, subindo em pé de árvore, organizando discotecas, brigando, sorrindo, chorando, correndo, amando, namorando nas caixas d’águas, essas coisas que fazem da vida um encanto. Já vivi dez dias sem casa tocando no meio da rua, já toquei de missa de sétimo dia ao Rec-beat, de cruzada evangélica a show de reggae. Achando pouco, carrego todos os dias um Bloco de Palhaços como se fosse um filho. Eu poderia querer o que da vida? Vivo em amores todos os dias, livre, respiro música o tempo todo e faço até hora extra, poesia é só consequência de uma vida bem resolvida. Informática me levou pra perto das informações e da leitura, teologia me levou pra perto de Deus e hoje meu trabalho é em um Castelo de Arte e Natureza. Projetei muito mais que realizei, mas as coisas que realizo, faço com muito gosto. Realmente cheguei onde queria. - E a vida amorosa? Você deve me perguntar. Essa é uma delicia, sem dúvidas nenhuma. Já chorei por três dias deitado em uma rede, já dormi abraçado uma noite inteira sem dá nem um beijo e saí no outro dia encantado. Já carreguei um peso de erro em uma amizade por mais de três anos, já namorei por plena vaidade, já sofri o bastante pra ter vontade de escrever, vivi várias luas de mel sem nunca ter casado, viajei sozinho estando com alguém ao meu lado e acompanhado seguido toda viagem sozinho, amei uma pessoa que hoje mal conseguimos conversar por muito tempo, parece uma pessoa estranha. Já escrevi um livro que nunca terá fim, já plantei uma árvore e deixei faltando fazer o filho, já me vesti de palhaço, já fui reconhecido palhaço sem nem tá vestido, já levei café da manhã na cama, já se esqueceram de me servir, já fiz músicas por amores e por dores, já morei junto por amor e música, cantei e dancei nas chuvas por um amor de verão, tive um grande amor de carnaval, já perdi outro no carnaval, acreditei sabendo que a outra pessoa estava mentindo, fui ignorante com que não devia e gentil demais com quem não merecia, bebi e caí até ser carregado por três mulheres pra casa, já fui amor platônico de alguém, já vivi relações doentias e relações tão maduras que pensei que duraria a vida inteira, já tive inúmeros amores platônicos e que nunca souberam que existiram, já fiz sexo quando era pra fazer amor e já fiz amor quando era pra ser só sexo, menti pra salvar alguém, falei verdades quando não deveria, cantei alguém que nem queria só por instinto, já fiquei na minha por achar que não era capaz de conquistar uma pessoa que já estava na minha. E perdi, ganhei e até empatei nesse jogo da vida.



Hoje cheguei à idade de Cristo, achando que vivi o bastante...



E só agora vocês me dizem que a vida só começa aos QUARENTA?
Pedro Drope (13/03/2012)

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